Brasil e Croácia enfrentaram-se na primeira partida brasileira na Copa de 2006 – Getty Images/Shaun Botterill
Por Miguel Icassatti
A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 começou para mim às 10h45 de hoje, 12 de junho de 2014. A essa hora saí de casa, no Jardim Paulista, rumo ao Itaquerão, para o jogo de abertura Brasil x Croácia – é a segunda vez que assisto a um jogo de abertura de Copa, aliás, e a segunda vez que este jogo é Brasil x Croácia.
Na primeira vez, em 2006, eu era um torcedor e cheguei a Berlim sem ingresso. Tive que morrer com 300 euros (o preço oficial era 65 euros) para conseguir um ingresso com um cambista, na porta do Estádio Olímpico de Berlim. Ele, o cambista, era brasileiro, claro.
Mas Deus também é brasileiro – e nasceu no Pari, e não no Belém – e eu explico por que acredito nisso: naquela hora em que comprava o ingresso do cambista, me perdi de um dos meus amigos. Estávamos em três.
Ao sair para procurá-lo, segui em direção à entrada do metrô, caminho pelo qual havíamos seguido. Faltava pouco mais de 15 minutos para o jogo começar. Enquanto eu trotava até a porta da estação, vi jogado no chão, na sarjeta, um ingresso.
Peguei-o, coloquei no bolso lateral de minha bermuda cargo e continuei trotando. Uns 200 metros adiante, na porta da estação de metrô, pude ver: era, sim, um ingresso para aquele jogo que estava prestes a começar.
Eu quase não acreditei.
De repente eu tinha dois ingressos na mão.
O que fiz, lógico, foi repassá-lo ali mesmo a um gringo – alemão, provavelmente – pelo mesmo valor que paguei: 300 euros.
Resumo da ópera: assisti ao jogo, só encontrei meu amigo no fim daquele dia e torrei uns 50 euros em cerveja, ao beber com uns croatas num pub perto do estádio.
Brasil x Croácia, de novo
Mas como eu dizia, este é meu segundo Brasil x Croácia. Par vir ao estádio, decidi ir de carro até a estação Anhangabaú e de lé tomar o metrô para Itaquera.
Eu vinha dirigindo bem pela Avenida Nove de Julho, até que, no túnel sob o Anhangabaú, o trânsito travou.
Pude ver, do lado de lá do túnel, no contra-luz, que nenhum carro saia do túnel. Pensei estar vendo algo como bandeiras, cabeças e o buzinaço não me deixava entender o que se passava.
O fluxo voltou, mas muito lentamente e puder ver que estava rolando uma manifestação. Por sorte, o CET, a polícia e até uns motoqueiros do exército intervieram e fizeram a coisa andar, ainda que lentamente.
Consegui pegar um retorno logo no fim do túnel e voltei para a estação do metrô.
Em 28 minutos eu desembarcava na estação Corinthians – Itaquera.
No vagão, puder ouvir sotaques de diversos lugares do Brasil: interior de São Paulo, Bahia, paulistano… E vi mexicanos, peruanos, colombianos e franceses. Todos numa boa.
“Lutem! Lutem por seu povo!”
Além daquele gol do Kaká, o que mais me marcou no Brasil x Croácia da Copa de 2006 foi o grito de guerra da torcida croata. Se o Brasil não saía do carnavalesco e bobinho “Leleleô, leleô, leleô, lelêo Brasil”, que não quer dizer absolutamente nada, os gringos gritavam, em um tom bélico, quase gutural, e com os punhos cerrados, a seguinte expressão:
“Uboj! Uboj! Za Narod Suoj”.
“Essa expressão quer dizer ‘Lutem! Lutem por seu povo!’”, disse-me há pouco na arquibancada o torcedor Zonimir Zuzu, de Bjeldvaz, interior da Croácia. “É um hino que passa um sentimento de esperança para o nosso povo, que se sente representado realmente por aqueles 11 caras em campo”.
Nunca é demais lembrar que a Croácia, assim como as demais repúblicas que formavam a ex-Iugoslávia, passou por uma guerra que dizimou milhares de pessoas, no início dos anos 90.
Zuzu, que esteve também naquele jogo em Berlim pela Copa de 2006, lembra-se que a Croácia jogava melhor que o Brasil, até que saiu o gol de Kaká. “No segundo tempo ficamos cansados e não conseguimos reagir. Espero que isso não aconteça de novo.”
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